No ecossistema de inovação, há uma série de mecanismos para as startups captarem recursos. Há, por exemplo, os investidores-anjo, o crowdfunding e os fundos venture capital.
Como alternativa ou complemento a essas estratégias, o mercado brasileiro tem se voltado, mais recentemente, para o venture debt. Esse formato, já consolidado no mercado norte-americano, tem como principal característica o menor custo para o empreendedor, uma vez que dilui menos a fatia de propriedade dos fundadores em comparação com o venture capital, por exemplo.
“Isso significa que a startup pode acessar recursos para continuar crescendo e se consolidando, sem ter que abrir mão de participação relevante em seu negócio”, explica Bruno Balbinot, fundador e CEO da Ambar.
Para o credor, embora seja um investimento de risco, o venture debt também reserva oportunidades. Além de receber o pagamento dos juros do empréstimo realizado, tem-se a chance de receber uma renda variável baseada no sucesso da startup investida.
Por que isso é importante?
Diante da fuga de investimentos, resultado de uma combinação de fatores que incluem inflação global e aumento das taxas de juros, o venture debt torna-se ainda mais importante. “Essa modalidade pode ajudar o ecossistema a passar por esse momento adverso e a alavancar o mercado como um todo”, analisa Gabriela Gonçalves, founder & managing partner da Nilla Capital.
Balbinot e Gonçalves participaram de um debate, mediado por Caleb Silver (Investopedia) durante o WebSummit 2023, um dos maiores eventos de tecnologia e inovação do mundo, realizado no Rio de Janeiro. Promovido pela primeira vez na América Latina, o Summit recebeu mais de 21 mil participantes de 91 países no início de maio.
Venture debt é opção para negócios em crescimento
Entre os diferenciais do venture debt destacam-se o melhor entendimento sobre como funcionam os negócios inovadores, diferente do que ocorre nas instituições financeiras tradicionais, que costumam pedir garantias que uma startup, muitas vezes, não tem. No venture debt, os fundos lastreiam o patrimônio por meio da cessão de outros instrumentos de crédito, como contratos não performados ou fluxo de recebíveis.
Até em função das características desse tipo de investimento, quem costuma fazer uso de venture debt são empresas com grande volume de crescimento, a exemplo da Ambar, e que possam considerar futuros recebíveis ou até expectativas futuras de lucro como fontes de pagamento do empréstimo.
“Quanto maior for a capacidade de o negócio inovador crescer, mais ele está pronto para obter o venture debt. Além disso, há diferentes termos de empréstimo. Encontrar a combinação perfeita para o contexto da companhia é essencial”, destacou Gabriela Gonçalves.
Balbinot concordou e explicou que, de certa forma, o venture debt prepara as companhias para se tornarem grandes. “Essa modalidade de captação de recursos exige que a empresa compartilhe informações e ofereça governança, assim como acontece com os demais investidores”, afirmou ele, reforçando que a conjuntura econômica não é fácil, mas reserva oportunidades mesmo assim. “Para quem já está empreendendo, essa é a hora de solidificar as fundações dos negócios para avançar ainda mais. Já para quem está começando a empreender, vale lembrar que os melhores negócios surgiram em momentos de crise”, concluiu ele.