Embora seja crescente o interesse de construtoras e incorporadoras em transformação digital e em industrialização, o fato é que o setor ainda está muito distante do padrão 4.0 já adotado em outras indústrias, como a automobilística. A maioria das empresas ainda opera com sistemas de gestão arcaicos e métodos construtivos artesanais, gerando improdutividade e desperdício de recursos.
Mudar esse cenário exige maior integração entre os elos da cadeia, especialmente construtoras e fornecedores. “Com um papel importante para fomentar a industrialização dos canteiros, a indústria tem o desafio de desenvolver produtos inovadores, ao mesmo tempo em que lida com questões como seleção de matéria-prima, investimento na produção de moldes, logística e criação de demanda”, diz Heitor de Vasconcelos Gouveia, head de inovação da Ambar.
Segundo ele, a sustentabilidade do setor passa pelo desenvolvimento de parcerias sólidas, com relações de ganha-ganha. “Nesse sentido, um gargalo a ser eliminado é a falta de visão de industrialização e de padronização dos projetos”, afirma Gouveia, lembrando que, no segmento de habitação de padrão econômico, 80% dos projetos são muito similares. “Contudo, cada um projeta e executa as instalações prediais de uma maneira, dificultando que haja ganhos de escala”, comenta ele.
Produção customizada e industrial
Para que os sistemas industrializados sejam financeiramente mais competitivos, a padronização precisa ser valorizada. “Atualmente, todos os projetos que desenvolvemos são customizados, ou seja, pegamos um projeto convencional, tiramos as ineficiências da obra e entramos com soluções construtivas industrializadas”, diz Francisco Franciulli, head da Polar. A empresa, do Grupo Ambar, desenvolve soluções inovadoras para instalações de infraestrutura elétrica, climatização e hidráulica. Segundo Franciulli, os ganhos de eficiência poderiam ser muito maiores se os projetos já nascessem com visão de industrialização e com atenção às questões relacionadas ao processo produtivo.
A mesma dor é compartilhada pelos fornecedores de banheiros prontos, conforme relata Leandro Fangel, especialista em projetos off-site da CMC Modular. “Em vinte anos de mercado, nunca consegui replicar o projeto de um banheiro. Cada obra tem uma característica distinta em função das especificações que vêm das construtoras”, conta ele.
As dificuldades, em especial os problemas relacionados à falta de controle de demanda, fizeram com que vários fornecedores de banheiros prontos deixassem esse mercado nos anos 2000. “No caso da CMC, um caminho que tem dado certo é apostar em uma linha de produção multiprodutos. Com isso, além do banheiro pronto, fabricamos painel de fachada, estrutura para cobertura de telhado, módulo provisório para locação e módulos definitivos para hotéis”, comenta Fangel. Ele lembra que as indústrias precisam ter uma perspectiva de demanda para poder investir, de modo mais seguro, em maquinários e em melhorias no chão de fábrica.
Análise de custo global
Outro obstáculo ao uso mais amplo de soluções construtivas industrializadas é a forma de analisar custos. “As empresas ainda se limitam a comparar preço por preço, em vez de fazer uma análise de custo total, considerando ganhos indiretos”, lamenta Franciulli.
Fábio Rippe, supervisor de engenharia na Tigre, concorda e reforça que esse tipo de abordagem acaba penalizando a industrialização. Segundo ele, a forma encontrada pela fabricante de tubos e conexões para lidar com a falta de conhecimento do mercado é focar na geração de valor proporcionada pelas soluções ao longo da vida útil do empreendimento.
“Temos obtido bons resultados oferecendo otimização de projetos, sem alterar o preço dos produtos. A ideia consiste em racionalizar a quantidade de conexões e tubos. Com isso, elevamos a produtividade, reduzimos a quantidade de interferências humanas e diminuímos o custo com assistência técnica”, explica Rippe.
Com mediação de Heitor Vasconcelos, Francisco Franciulli, Fábio Rippe e Leandro Fangel participaram do episódio “Logística e Integração”, do Ambar Podcast, programa promovido pela Universidade Ambar. Para acompanhar o bate-papo na íntegra, clique aqui.